quinta-feira, 26 de julho de 2007

o orçamento militar e as armas espaciais respondem ao desafio militar dos EUA 26/07



A China anunciou, em 4 de março, um crescimento de 17,8% em seu orçamento militar oficial para 2007. É o maior salto em uma década, depois de um crescimento já notável de 14,7% em 2006. Destina-se em grande parte a melhorar o soldo e a moradia de seus soldados, mas também à aquisição de armas.
O subsecretário de Estado dos EUA, John Negroponte, reclamou da falta de transparência desses gastos, mas mesmo pelos critérios do Instituto de Pesquisa da Paz Internacional de Estocolmo (Sipri), que em 2005 atribuía ao país um orçamento de cerca de 37% superior ao oficial, os gastos militares devem representar apenas 2,6% do PIB chinês. Os EUA gastam 4,2% e a Rússia, quase 5%. Mas o aumento não é desprezível em relação à segunda metade dos anos 90, quando a defesa absorvia menos de 2% da economia chinesa.
Se em vez de porcentagens do PIB, forem considerados os valores absolutos, o crescimento é mais notável. Somados os aumentos dos últimos dois anos sobre a estimativa do Sipri para 2005, o orçamento militar da China chega (em dólares de 2003) a 56 bilhões de dólares em 2007, quatro vezes mais do que em 1995 e mais de um terço do orçamento da URSS em seus últimos anos. Em valores calculados de acordo com a taxa de câmbio entre o yuan e o dólar, o orçamento oficial é comparável ou pouco superior ao das demais potências de segunda linha, tais como o Reino Unido, a França ou o Japão. Mas o Sipri também calculou as despesas militares da China em 2005 pelo critério de paridade de poder aquisitivo, que resulta em 188,4 bilhões de dólares, ou 39% dos gastos dos EUA, um patamar bem superior. Em 2007, pelo mesmo critério, as despesas podem chegar a 245 bilhões de dólares, ou 46% do orçamento militar dos EUA. Para o Pentágono, o orçamento militar real da China é de 70 bilhões de dólares a 105 bilhões em moeda corrente – 12% a 18% do seu próprio, mas o segundo do mundo.
A rivalidade ainda não se compara com o auge da Guerra Fria, quando os gastos militares soviéticos rivalizavam com os estadunidenses. Mas o Pentágono, pelo menos, parece levar a possibilidade de um desafio chinês à sua hegemonia global bem mais a sério do que a de um ressurgimento do poderio russo.
Na Conferência de Segurança de 10 de fevereiro em Munique, o presidente Vladimir Putin fez o discurso mais contundente com Washington desde o fim da Guerra Fria. Acusou-a de encorajar outros países a adquirir armamento nuclear com seu “quase incontido” uso da força no mundo. “Os EUA ultrapassaram os limites de suas fronteiras nacionais em todos os sentidos.” Robert Gates, o secretário da Defesa dos EUA, escarneceu:
– Como velho lutador da Guerra Fria tenho de dizer que um dos oradores de ontem me fez sentir certa nostalgia de uma época menos complexa. Suponho que os velhos espiões têm uma forma peculiar de falar.
O russo está agastado com sua impotência para deter o recrutamento de países do antigo bloco soviético para a Otan, aliança militar do Ocidente, acompanhada de instalação de bases militares do Pentágono às suas portas. Seu país também tem aumentado seu orçamento militar: 29%, em 2006, 28%, em 2007, em termos nominais. Mas, mesmo segundo a paridade de poder aquisitivo, teria passado de 64,4 bilhões de dólares ou 13,5% dos EUA em 2005, segundo o Sipri, para não mais de 16,7% em 2007. Isso talvez até devesse ser tomado por Washington como positivo: hoje, os maiores riscos do arsenal nuclear herdado da URSS para o Ocidente são os de acidentes por manutenção deficiente, ou os da sua venda no mercado negro por militares e técnicos mal pagos e fáceis de corromper.
Mas, quando a China testou sua arma anti-satélite, em 11 de janeiro, o Pentágono não levou na brincadeira. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Gordon Johndroe, se disse “preocupado com a falta de transparência da China”. Reino Unido, Japão e Austrália juntaram-se à condenação e os EUA cancelaram planos de desenvolver projetos espaciais conjuntos com Pequim, inclusive uma possível missão à Lua.Segundo o Pentágono, foi o quarto teste do gênero, o primeiro com sucesso. Um míssil balístico de médio alcance, lançado pelo exército chinês da base de Xichang, província de Sichuan, usou uma ogiva não explosiva para destruir, a 870 quilômetros de altitude, o Fengyun 1C, satélite meteorológico chinês lançado em 1999 e já desativado. Foi o desafio mais explícito à supremacia estadunidense no espaço desde que Kruchev pôs o Sputnik em órbita.
Foi o segundo teste bem-sucedido do gênero no mundo desde 1985, quando os EUA destruíram um satélite Solwind, a 530 quilômetros de altitude, com um míssil lançado de um caça F-15. A arma chinesa é mais sofisticada que a russa (não testada) que, menos precisa, tentaria destruir o satélite com uma bomba de fragmentação.
Além disso, satélites chineses sem missão declarada, revelou em fevereiro o jornal militar estadunidense Air Force Times, empenham-se em uma marcação “homem a homem” com alguns satélites-chave do Pentágono, não se sabe se para espioná-los ou para destruí-los em caso de conflito. E em setembro de 2006, os chineses usaram lasers com base em terra para “cegar” temporariamente satélites de reconhecimento estadunidenses sobre seu território. Se foram ou não bem-sucedidos, é segredo bem guardado pelos EUA.
Tais armas, se usadas contra satélites de comunicação, observação e detecção de mísseis, podem deixar o Pentágono cego, surdo e mudo em um piscar de olhos: essa potência depende de seus recursos espaciais mais do que qualquer outra, até para as ações mais rotineiras. tecnologia usada para rastrear, identificar e interceptar um satélite pode ser adaptada contra mísseis balísticos e conferir à China uma capacidade de defesa antimíssil e anti-satélite, até agora, só os EUA e a Rússia sonhavam possuir.
A China, que até recentemente condenava oficialmente a militarização do espaço e o desenvolvimento de defesas antimísseis, alegou não ter pretendido dirigir seu teste contra qualquer país, mas suas façanhas anti-satélites começaram logo após a Casa Branca formalizar, em 31 de agosto, a primeira mudança oficial da política espacial dos EUA em dez anos.
Grande parte do texto é secreta, mas em trechos liberados lê-se que “os EUA rejeitam quaisquer limitações em seu direito fundamental de operar e captar dados no espaço, (...) dissuadirão os demais de obstruir esses direitos ou desenvolver capacidades nesse sentido (...) e negarão aos adversários, se necessário, o uso de recursos espaciais hostis aos interesses nacionais dos EUA”. O secretário da Defesa foi encarregado de assegurar “o aprimoramento da força, o controle do espaço e missões de aplicação de força”.
A expressão “controle do espaço” foi muito criticada por analistas europeus. Unilateral, agressiva e imperialista, explicita a intenção de empregar armas espaciais para negar a outras potências o uso do espaço, quando convier. Não se pode, nesse aspecto, acusar os EUA de falta de transparência.
Nesse contexto, o teste chinês, juntamente com o aumento do investimento militar, parece ser um recado ao unilateralismo estadunidense. Como Putin pôde constatar, não basta falar grosso para ser levado a sério. Os chineses falam manso, mas levam um porrete grande, como aconselhava Teddy Roosevelt.
Desde 2000, quando o Pentágono começou uma corrida armamentista consigo mesmo, era questão de tempo para os rivais decidirem acompanhá-lo. O resultado aí está. Em queda até 1999, os gastos militares globais, voltaram, em 2005, a superar o patamar dos últimos anos da Guerra Fria. Segundo o Sipri, os EUA, sozinhos, respondeu por 48% desse total, proporção sem precedentes na história. http://youtube.com/watch?v=w7ODJHUX_EM

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